segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Meu Anjo



Meu anjo tem o encanto, a maravilha
Da espontânea canção dos passarinhos;Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminho.Triste de noite na janela a vejo.
E de seus lábios o gemido escuto
É leve a criatura valorosa
Como a frouxa fumaça de um charuto.
Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo…Formosa a vejo assim entre meus sonhos...
Mais bela no vapor do meu cachimbo.
Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso. Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!
Mas quis a minha sina que seu peito.
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!
(Autoria: Álvares de Azevedo )